terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Resenha: A Comédia Trágica ou a Tragédia Cômica de Mr. Punch

A Comédia Trágica ou a Tragédia Cômica de Mr. Punch
(The Comedical Tragedy or the Tragical Comedy of Mr. Punch)
Autor: Neil Gaiman e Dave McKean
Nº de Páginas: 96
Editora: Conrad
Publicação: 2010
Nota: 4 sementes
‘A Comédia Trágica ou a Trágica Comédia de Mr. Punch’ é um nome bem grande para uma abreviação contagiante: Mr. Punch. A graphic novel tem o enredo ótimo de Neil Gaiman com a arte de Dave McKean que faz escola.
A história aqui representada é a de um menino que vai passar as férias de verão em Portsmouth (litoral inglês) na casa de seus avós. Lá entra em contato com as encenações um tanto horripilantes de Mr. Punch, um fantoche que é o personagem principal de uma pequena peça teatral famosa na cultura inglesa, nela Mr. Punch tem o aspecto sombrio e violência anárquica. Mas nem a só isto se resume a história.
Enquanto passa o verão na casa dos avôs, o menino é confrontado com experiências que vão muito além da sua idade ou da sua compreensão como segredos de família e traições.
O livro tem um toque e uma estética sombrias, que são naturais das obras de Gaiman. Porém, em momento algum a história é forçada. O livro trata de assuntos mais pesados em questões de relacionamentos familiares, mas tudo se dá na ótica do jovem narrador de oito anos. O mesmo tem ótimas observações que dão um toque sutil à obra com temas pesados, como:

“(...) a morte é relativa, não absoluta. Você pode estar ligeiramente morto, assim como pode estar ligeiramente grávida)(...)”

São estas observações infantis que trazem o tom imaginário e fantasioso da obra.
Quanto aos assuntos mais sérios como os segredos de família ou os problemas financeiros, o narrador os cita com sua visão de criança que passou por aquilo, apesar de ser como um livro de memórias. Até mesmo quando temos uma visão atual, da vida adulta do personagem, nada é esclarecido, como se a visão sobre o assunto ainda fosse a de uma criança passando o verão com os avós e deixa a cargo do leitor ter bagagem para entender o que se passa na vida do garoto.
O que o leitor pode encontrar problemas é na parte cultural que envolve a obra. Mr. Punch enquanto teatro de fantoches realmente existe na Inglaterra e é popular nos litorais, o que nem todos que não são ingleses podem saber. Estas questões culturais talvez atrapalhem a leitura da obra, eu escolhi ver como mais um aprendizado.
Mr. Punch é mais uma obra maravilhosa da parceira de Neil Gaiman e Dave McKean com um tom realista e sombrio, sem deixar a magnitude da fantasia dentro da vida de uma criança.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Resenha: Laranja Mecânica

Laranja Mecânica
(A Clockwork Orange)
Autor: Anothony Burguess
Editora: Aleph
Publicação: 2004
Nota: 4 sementes

Alex é o líder de uma gangue futurista. Junto com os amigos adolescentes Georgie, Pete e Tosko, praticam assaltos, espancamentos e estupros livremente pelas ruas de uma Londres decadentes cujos habitantes tem medo de sair a noite e preferem se distrair com programas de televisão.
Um dia Alex vai longe demais e, involuntariamente, comete um assassinato. Preso, sua única chance de sair da reclusão é participar como cobaia de uma experiência de engenharia social desenvolvida para eliminar tendências criminosas. Uma experiência extremamente dolorosa e tão desumana quanto a ultraviolencia que o próprio Alex costumava praticar.

O livro, dividido em três partes, é uma grande surpresa. Sem nunca ter tido contato direto com Laranja Mecânica, nem mesmo o filme, não sabia o que me esperava nas páginas meio amareladas de um livro emprestado. O primeiro contato com Alex como personagem principal com sua gangue futurista é um tanto revoltante, atiçando a boa moral social do leitor. Em um exemplo de violência pura e anárquica, o jovem com seus amigos se vestem muito bem e praticam os atos mais desprezíveis desde o espancamento de um jovem senhor até o estupro de meninas de dez anos, o que eles chamam de ultraviolencia horroshow. Durante todo o tempo a sensação é de que aquilo precisa acabar, alguém precisa colocar um fim naquela gangue. No começo estamos ainda cegos sobre o que deve ser feito e minha posição quanto ao personagem principal foi esperar um herói para que ele virasse, então, um antagonista.
Ledo engano, o que acontece é que Burguess, na segunda parte do livro, abre os nossos olhos leitores para a grande imagem da sociedade decadente de Londres. A sociedade não está decadente por causa de Alex, ele é meramente um produto de toda aquela sujeira. Quando o Vosso Humilde Narrador é preso, o que acontece é que todas as máscaras caem: a polícia é ultraviolenta e corrupta horrorshow, o agente de condicional de Alex é tão sem coração quanto qualquer outro personagem ali, até seus médicos que parecem tão bons no começo de seu tratamento tiram uma casca da violência que podem praticar com Alex que se coloca somente a krikar (gritar).
Por Bog, o que Anthony Burguess consegue com esta obra é criar mais do que um livro, é um guia de uma juventude tão decadente quanto sua sociedade, quanto seus velhos burgueses que parecem inofensivos, quanto suas crianças de dez anos usando salto alto e enchimento. De leitura densa, o escritor consegue aprofundar ainda mais as nuances dos personagens com um vocabulário que ele mesmo cria e o chama de ‘nadsat’. Feito para causar estranhamento para o leitor, no final do livro existe um glossário com as palavras usadas durante o livro, porém ler a historia sem consultá-lo faz parte da experiência de se ambientar e viver Laranja Mecânica como um todo.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Resenha: Sushi

Autora: Marian Keyes
Editora: BestBolso
Publicação: 2011
Nota: 2 sementes


Em ‘Sushi’, a vida de três mulheres é a matéria-prima para o romance um tanto longo de Marian Keyes. Lisa Edwards, uma editora extremamente competente, durona, sofisticada e um tanto workaholic que é puro mal-humor já que foi transferida de Londres para Dublin, e não promovida para Nova York – como esperava. Ashling é a assistente de Lisa, uma pisciniana cheia de manias, ansiosa e solitária que divide o apartamento com seu amigo e  aspirante a comediante, Ted. E a última personagem é Clodagh, uma dona de casa insatisfeita que tem a vida que muitas mulheres sonham: uma casa no melhor bairro da cidade, um marido lindo e dois filhos (quase) gracinhas.
O romance começa centrado em Lisa, uma mulher que é (aparentemente) muito segura e independente, que está a dois minutos de ser promovida de Londres para Nova York onde acredita que será a nova diretora da maior revista do grupo editorial onde trabalha. O que acontece, porém, é que ela é transferida para fundar uma revista do zero em Dublin, o que a deixa extremamente irritada por todo o romance. Ashling aparece como a ‘quebra-galho’ que é contratada para ser o braço direito de Lisa em Dublin, o que acontece é que uma pessoa animada e supersticiosa passa a ser um saco de pancadas da chefe enquanto tenta aprender e subir no ramo editorial das revistas. Clodaugh é a melhor amiga de Ashling e aparece como uma mulher que, aos poucos, se torna cada vez mais infeliz com a própria vida e com até certa inveja da amiga.
Neste meio tempo das primeiras muitas páginas vemos Lisa se dedicar incansavelmente ao trabalho criando a revista Coleen, ficar mais irritada porque está em processo de divórcio de um fotografo chamado Oliver, que é tudo o que Lisa sempre quis, até não ter mais. Ashling se interessa por Marcus Valentine, um comediante em ascensão em Dublin que é cobiçado pela Coleen para ser um colunista homem inovador e bem-humorado. Enquanto Clodaugh perde os cabelos com os filhos irritantes, redecorando a casa por tédio e achando seu marido, Dylan, cada vez um homem pior. E é nisto que podemos resumir as primeiras 300 páginas do livro.
Eu, honestamente, já tenho problemas com chick-lit e comprei este livro na esperança de que a nova autora popular deste gênero conseguisse me fazer gostar um pouco disto tudo... Mas o que aconteceu foi bem o contrário.
O começo do livro até é legal, até me identifiquei com partes das personagens e todo aquele drama em cima de uma revista nova. O que acontece, porém, é que boa parte do livro se mantém neste ritmo e nesta mesma situação, o que o torna um pouco enrolado.
Com o tempo, perdi qualquer identificação que teria tanto com Lisa, Ashling ou Clodaugh. Talvez por serem mulheres (que deveriam ser) mais maduras, porém o que sinto é que você procura isto nos personagens e continua perdida.
Os personagens secundários são os mais legais e com os quais eu pude me identificar, como Ted que se torna comediante não por dinheiro ou fama, mas porque busca uma namorada. O final até poderia ser surpreendente, mas por um motivo aqui e outro ali, deixa de ser.
No fim das contas, é muito legal a idéia da autora de um romance com mulheres não tão jovens que procuram sua felicidade independente da onde, até mesmo na chuvosa Dublin. É um romance que pode ser que agrade as pessoas mais apaixonadas por este gênero mas provavelmente vão se cansar com as quase 600 páginas.